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Ampliando a compreensão do mundo.



O livro:

Semiótica e totalitarismo

Izidoro Blikstein

Editora contexto

223 páginas


Confesso que quando tive contato com esse livro, fiquei um pouco impressionado. O titulo do livro pode passar um ar de complexidade e um tipo de leitura densa e cansativa.

Nada poderia ser mais diferente. Esse é um excelente exemplo do famoso ditado: "não julgue um livro pela capa". Apesar do titulo, aparentemente complexo, esse livro foi grata surpresa.

Izidoro Blinkstein, o autor do livro, desenvolve o texto como uma conversa com um amigo, muitas vezes, fazendo perguntas para uma reflexão, quase como se estivesse na sua frente bebendo alguma coisa e conversando em uma tarde agradável. O texto é leve e gostoso de ler, trazendo simplicidade e didática da primeira a ultima página.

Muito provavelmente, essa facilidade em se comunicar está relacionada ao currículo de Izidoro. Ele possui graduação e especialização em letras clássicas pela USP, mestrado em Linguística comparativa pela Université Lumieére Lyon, doutorado e livre-docência em letras pela USP.

O livro é a expressão da ideia que: você só deve dizer que compreende de um assunto se você consegue torna-lo simples(e não simplório) para outras pessoas compreenderem, e o autor o faz muito bem.

Meu irmão que me emprestou este livro, pois se trata de um assunto sobre o qual eu gosto e leio sobre: o regime totalitário Nazista na Segunda Guerra Mundial. O que me chamou a atenção imediatamente foi o conceito de semiótica.

Não sei o quanto você leitor está familiarizado com a semiótica, mas para mim, era um assunto quase que desconhecido, ainda que eu tivesse os conceitos bem básicos sobre o tema.

Podemos dizer que a semiótica estuda a comunicação. Não apenas as questões práticas e de ordem linguística de se comunicar, mas todas as formas que usamos, sejam elas letras, palavras, sons, desenhos, espaços, movimento, cheiros, enfim, todas as formas que o ser humano criou e continua criando para se comunicar.

Por tanto, o autor nos diz que: “... para inicio de conversa, podemos dizer que semiótica ou semiologia (do grego semeîon, "signo", "sinal") tem como objetivo explicar a criação e o funcionamento dos vários sistemas de signos, sinais e símbolos utilizados por todo e qualquer grupo de indivíduos para a expressão e a comunicação de ideias, sentimentos emoções, desejos e necessidades...”.

Interessante, não? Se prestarmos bem atenção nessa definição, o estudo da semiótica nos abre uma janela para a compreensão da realidade que vivemos, e a que não vivemos...

Mas nessa definição, o que são signo, sinal e símbolo? É bem simples e interessante, veja:

Signo - estimulo intencional, codificado, que carrega significante e significado. Quer um exemplo? Um placa (significante) de com E(código) de "permitido estacionar", quem fez aulas de direção sabe(estímulo) que ali(intenção), é permitido estacionar o veiculo(significado).

Sinais - estimulo intencional, não codificado. Nesse caso, é só se lembrar de um bebê. Quando ele quer alguma coisa (intenção), mexe as mãos, faz barulho, chora (estimulo), mas não sabemos exatamente o que ele quer (não codificado) e temos que testar e ficar atento até entender o que o pequenino está pedindo.

Símbolo - signo, cujo significante adquiri conotações culturais criadas pelo contexto sociocultural. Aqui podemos tomar como exemplo um crucifixo (significante). Em locais de religião cristã (contexto sociocultural) representa um símbolo religioso (conotação), em locais de outras religiões ou ainda sem religião, o mesmo crucifixo representa um instrumento de execução (conotação) do império romano (contexto sociocultural).

Muito interessante, não é mesmo? Pois é isso que a semiótica estuda. As diferentes formas de comunicação e como tais formas definem, mostram, ocultam, e por que não, moldam a nossa sociedade. Toda primeira metade do livro trata de definir e explicar esses conceitos.

Mas o totalitarismo?

Pois é ai que o autor me surpreendeu ainda mais, ao trazer para a compreensão do que foi a monstruosidade do nazismo, uma análise que eu ainda não conhecia: a forma como esse regime monstruoso utilizou-se, larga e amplamente, da semiótica para propagar toda ideologia de superioridade de raça e preconceito. Mais do que isso, como todo conjunto de formas, sons, falas, letras e toda a estética desse regime serviram não apenas para dar a forma ao regime, mas como fez com que o povo alemão, em sua grande maioria, normalizasse e aceitasse todos os horrores praticados desde a chegada do partido nazista ao poder até a sua derrocada.

Izidoro mostra detalhadamente como o uso da semiótica possibilitou aos nazistas traduzir para o cotidiano os conceitos de raça pura, o antissemitismo, e tantos outros horrores e atrocidades praticadas e traz um alerta perturbador: Tal movimento ainda está presente nos os dias de hoje...

Melhor para por aqui para não dar spoliers...,

Recomendo muito a leitura, pois a semiótica é um conceito que ajuda muito a nos entender e a entender sociedade a nossa volta, além de ser uma ferramenta valiosa para melhorar nossa comunicação como um todo.

Por fim, reforço a recomendação, pois o livro serve como um alerta e um chamado para ficarmos vigilantes e críticos a toda comunicação que recebemos, percebemos e produzirmos a fim de não nos deixar ser manipulados pela comunicação intencionalmente falseada para nos levar, muitas vezes, a uma sociedade que interessa a apenas uns poucos e não ao bem estar de todos.

É como disse Bertolt Brecht: "A cadela do fascismo está sempre no cio"

Algumas frases do livro:

"... ao debruçar-se sobre o discurso, o olhar semiótico procura captar não só o visível, mas sobretudo, o inteligível. Em outras palavras, a Semiótica nos permite perceber como atuam as representações sígnicas externas e na estrutura interna dos indivíduos "

"...a monstruosidade da experiência no campo de concentração era tal que tanto os opressores como as vítimas tinham consciência da dificuldade que teriam os outros em acreditar nos relatos...."

"...a doutrina nazista está baseada na exaltação do indivíduo simples, forte, ereto, ligado à vida pura do campo e cercado pela natureza; era necessário evitar os pretensos intelectuais, poluídos e corrompidos pelo individualismo e por ideias políticas voltadas para a liberdade e democracia...."

"... nós diríamos que não só a aritmética e a filologia levam ao crime, na verdade, a linguística, a semiótica e tantas outras ciências também podem levar ao crime..."


#livro #dicadeleitura #semiotica #nazismo #totalitarismo

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